quarta-feira, 17 de junho de 2015

ESPÍRITOS DA UMBANDA - BAIANOS

Ante o sucesso da série de estudos "Orixás da Umbanda",  surgiu a necessidade de prosseguir os estudos sobre nossa sagrada religião. Uma vez que os Orixás já foram comentados, é chegado o momento de falar dos espíritos, das entidades que atuam na Umbanda, que comandam nossos trabalhos e que nos trazem mensagens do plano espiritual. Buscar-se-á abordar todas as questões inerentes ao tema, deixando claro, logicamente, que o leitor possui toda a liberdade de questionar e de mandar suas dúvidas.

Que Oxalá nos ilumine! Um bom estudo a todos!

ESPÍRITOS DA UMBANDA - BAIANOS



Seguindo nossa série de estudos que abordam os espíritos que atuam na religião de Umbanda, iremos tratar neste texto de espíritos alegres, que gostam de batuque, de dançar, de dar risada. Porém, apesar dessas características, são eles grandes trabalhadores e guerreiros da Umbanda.

Com a Linha de Baianos, passamos a tratar da chamada "Linha intermediária" ou "Linha auxiliar", designada por alguns. Essa linha intermediária, integrada por baianos, boiadeiros, ciganos e marinheiros, é assim designada em razão de agrupar falanges de trabalho que não integram a chamada "direita", que é formados por espíritos mais ligados aos Orixás, portanto tidos como mais elevados. E também por não integrarem a chamada "esquerda" que é formada por Exus e Pombagiras, os quais possuem um trabalho mais denso e específico do que os demais.

Dessa forma, são eles intermediários ou auxiliares, tanto da direita quanto da esquerda. Por existir esse livre trânsito nas linhas espirituais, os baianos podem ser encontrados tanto em uma sessão de direita, como de esquerda, dependendo das regras da casa. Ou, como acontece na maioria dos terreiros, possuírem um dia específico apenas para o trabalho dessa linha. 
  
A Linha dos Baianos  é, ao meu ver, uma das maiores provas de que a Umbanda é uma religião extremamente brasileira. Isso porque, é impossível imaginar uma linha de trabalho intitulada de baianos, na  Atlântida, na África ou em outros continentes que muitos defendem por aí.  

Outra questão que sempre gera dúvidas nos umbandistas iniciantes ou simpatizantes é o por que de uma linha intitulada Baianos? Será que existem também a linha dos gaúchos, cariocas, paulistas? 

A resposta é negativa. A opção da espiritualidade pela Bahia é lógica. Pois foi esse Estado a porta de entrada dos Orixás e toda a cultura africana no Brasil. Até nos dias atuais, ao falarmos da Bahia, logo imaginamos miçangas, Orixás, candomblé, etc. Esse lugar mistico que recebeu os filhos da mãe África ficará marcada para sempre. Dessa forma, a espiritualidade permitiu a organização de linhas de trabalhos que se manifestariam nos terreiros sob a proteção de Nosso Senhor do Bonfim, e que trariam todo o conhecimento da magia dos ancestrais. 

A Linha de Baianos é muito conhecida e requisitada para o desmanche de trabalhos de magia negra, para a realização de rituais de "abertura de caminhos", para encaminhamento de kiumbas e espíritos sofredores, entre outros. Apesar desse trabalho sério e respeitável, suas sessões são marcadas pela alegria, pela risada, pela dança. Todavia, não devemos esquecer que, apesar dessa forma de trabalho alegre, eles merecem o nosso respeito, assim como qualquer outra entidade que se manifeste à serviço da Umbanda. 

Em seus trabalhos, os baianos e baianas, utilizam-se de charutos e cigarros, como forma de descarrego e energização do ambiente, bem como a bebida alcoólica, geralmente a batida de coco,  também utilizada como ponto energético entre o guia e o médium. Utilizam-se também do coco fruta, para desmanche de trabalhos e realização de magias, bem como a "fundanga" (pólvora), para a limpeza e desobsessão. 

Também há muitas perguntas se a entidade que se manifesta como Baiano ou Baiana, de fato nasceu ou morou no Estado da Bahia? A resposta também é negativa. 
Nem todos os Baianos que vêm à terra realmente o foram em suas vidas passadas. Isso porque ao adentrar a Lei de Umbanda o espírito perde sua identidade e passa a integrar uma falange, uma Linha de trabalho, na qual aprende suas técnicas e magias nas escolas de Aruanda. Assim, o nome que  uma entidade passa em um terreiro, não significa que esse era seu nome quando encarnado, mas sim o nome da falange na qual integra. 


As falanges mais conhecidas da Linha de Baiano são:


- Mané Baiano
- Zé Baiano
- Zé da Estrada
- Zé da Estrada e dos Trilhos
- Zé do Côco
- Zé do Côco de Pernambuco
- Zé Tenório
- Zé Pereira
- Zeca do Côco
- Zézinho Bahiano
- Chico Baiano
- João Baiano
- Severino
- Joaquim Baiano
- Carcará
- Pai Baiano

- Juventino
- Juvêncio
- Baiana das Rosas
- Baiana das Miçangas
- Rosa Baiana
- Maria do Balaio
- Maria do Rosário
- Etc..
Suas cores são o vermelho e/ou laranjado. 
Suas oferendas levam velas vermelhas ou laranjas, côco, charutos,  farofa de carne de sol e batida de côco ou marafo, dependendo da entidade.
Não possuem um dia específico para sua louvação.
Não possuem saudação específica, sendo mais comum a utilização de "Salve o Povo da Bahia!".

PONTOS
Os pontos cantados dessa Linha refletem seus trabalhos, sua mística, bem como, transmitem sua alegria. Seguem abaixo, alguns dos pontos mais conhecidos.

PONTO 01

Se ele é baiano, agora que eu quero ver,
Dançar catira no azeite de dendê!
Eu quero ver, os Baianos de Aruanda,
Trabalhando na Umbanda,
Pra quimbanda não vencer!


Eu quero ver, os Baianos de Aruanda,
Trabalhando na Umbanda,
Pra quimbanda não vencer!

PONTO 02


Ai, meu Senhor do Bonfim! 
Bahia São Salvador!
Vamos saravá minha gente!
Que o povo da Bahia já chegou!


PONTO 03


Se ele é Baiano ele arrebenta a sapucaia!
Se ele é Baiano ele arrebenta a sapucaia!


Êêê meu Pai, Ele arrebenta a sapucaia!
Êêê meu Pai, Ele arrebenta a sapucaia!


Se ele é da Bahia esse baiano vale ouro!
Se ele da Bahia, salve seu chapéu de couro!


PONTO 04 


Bahia, ô África!
Vem cá, vem nos ajudar!


Bahia, ô África!
Vem cá, vem nos ajudar!


Povo Baiano,
Povo Africano,
Vem cá, vem nos ajudar!


PONTO 05


Se eu sou da Bahia,
de São Salvador!
Eu sou mensageiro de muita paz
e de muito amor!


Se eu sou da Bahia,
de São Salvador!
Eu sou mensageiro de muita paz
e de muito amor!


A Baiana é boa!
Todo mundo acha!
Na cidade alta!
Na cidade baixa!  

Cristo nasceu na Bahia, 
Assim diz o ditado,
Quem for à Bahia,
Fica mau acostumado!


PONTO 06


Quando eu vim lá da Bahia,
Eu trouxe meu patuá,
Terreiro que tem mironga,
Baiano vai mirongar!


Bahia êêê,
Bahia êêá



Bahia êêê,
Bahia êêá


PONTO 07


Mas Baiano chegou da Bahia,
E o batuque não pode parar!
Com seu colar de miçanga,
É na gira de Pai Oxalá!


Mas Baiano chegou da Bahia,
E o batuque não pode parar!
Com seu colar de miçanga,
É na gira de Pai Oxalá!


Ôôôô
O batuque não pode parar!
Ôôôô
É na gira de Pai Oxalá!


PONTO 08


Quando eu cheguei da Bahia,
Estrada eu não via!



Quando eu cheguei da Bahia,
Estrada eu não via!


Cada encruza que eu passava,
Uma vela eu acendia!


Cada encruza que eu passava,
Uma vela eu acendia!


PONTO 09


Ô na Bahia tem,
diz que tem ouro fino,
doz que tem ouro em pó, oi!





Ô na Bahia tem,
diz que tem ouro fino,
doz que tem ouro em pó,
diz que tem ouro fino,
diz que tem ouro em pó


pimenta da costa,
da costa ioió


diz que tem ouro fino,
diz que tem ouro em pó

pimenta da costa,
da costa ioió



PONTO 10


Ô na Bahia, corre água sem chover!
Ô na Bahia, corre água sem chover! 
Se água do côco é doce,
Eu também quero beber!



Se água do côco é doce,
Eu também quero beber!

Ô na Bahia tem gente que sabe ler!
Ô na Bahia tem gente que sabe ler!


Tem também os dois baianos,
que desmancham cangerê! 




PONTO 11 


Pisa Baiano,
Pisa lá que eu piso cá!
Pisa Baiano,
Quero ver você pisar!
Pisa Baiano,
Como esta coisa é boa,
Nunca vi o Rei de Umbanda,
Trabalhar sem a coroa!


PONTO 12


Vamos Baianada,
Pisar no Catimbó!
Para amarrar os inimigos,
Na pontinha do cipó!

Vamos Baianada,
Pisar no Catimbó!
Para amarrar os inimigos,
Na pontinha do cipó!


PONTO 13


Na Bahia tem um côco,
Este côco tem dendê!

Na Bahia tem um côco,
Este côco tem dendê!


Mas me diga como é que se come este côco!
Este côco é bom de comer!

Me diga como é que se come este côco!
Este côco é bom de comer!

PONTO 14

Mas eu fui pra Bahia,
Fazer uma promessa  ao Senhor do Bonfim!
Bem que eu queria, seguir na Umbanda até o fim!

Mas eu fui pra Bahia,
Fazer uma promessa  ao Senhor do Bonfim!
Bem que eu queria, seguir na Umbanda até o fim!


Me ajuda, me dê paz e saúde ó Senhor do Bonfim!
Me ajuda, me dê paz e saúde!

Me ajuda, me dê paz e saúde ó Senhor do Bonfim!Me ajuda, me dê paz e saúde!

PONTO 15

Baiana da saia rendada,
O tabuleiro tem axé!
A Baiana está requebrando,
Oi, como dança no candomblé!

PONTO 16

Baiana faz e não manda,
Nem tem medo de demanda!

Baiana faz e não manda,
Nem tem medo de demanda!

Baiana feiticeira,
Filha de Nagô,
Trabalha com pó de pemba,
Pra ajudar Babalaô!

Baiana feiticeira,
Filha de Nagô,
Trabalha com pó de pemba,
Pra ajudar Babalaô!

Baiana sim, Baiana vem,
Quebra mandinga com dendê!

Baiana sim, Baiana vem,
Quebra mandinga com dendê!

Baianos na Umbanda

Durante muitos anos a linha dos baianos foi renegada e os trabalhos feitos com ela eram vistos com restrições. Dizia-se que por não ser uma linha diretamente ligada às principais, era inexistente, formada por espíritos zombeteiros e mistificadores.

Aos poucos eles foram chegando e tomando conta do espaço que lhes foi dado pelo astral e que souberam aproveitar de forma exemplar.

Hoje se tornaram trabalhadores incansáveis e respeitados, tanto que é cada vez maior o número de baianos que está assumindo coroas em várias casas. A alegria que essa gira nos traz é contagiante. Os conselhos dados aos consulentes e médiuns demonstram uma firmeza de caráter e uma força digna de quem soube aproveitar as lições recebidas. Actualmente já temos o conhecimento de que fazem parte de uma sublinha e nessa designação podem vir utilizando qualquer faixa de trabalho energético, ou seja, podem receber vibrações de qualquer das sete principais.

Têm ainda um trânsito muito bom pelos caminhos de exu, podendo trabalhar na esquerda a qualquer momento em que se torne necessário.

Cientes dessa valiosa capacidade, nós dirigentes, sempre contamos com eles para um desmanche de demanda ou mesmo sérios trabalhos em que a magia negra esteja envolvida. Com eles conseguimos resultados surpreendentes.

Quando se fala na Baía, nossos pensamentos são imediatamente remetidos para uma terra de espiritualidade e magia. O povo baiano é sincrético e ecumênico ao extremo, nada mais natural que sejam escolhidos para essa homenagem de lei que é como se deve ver a questão. Vale ainda lembrar que nem todos os baianos que vêm à terra realmente o foram em suas vidas passadas, esses espiritos agruparam-se por afinidades fluídicas e dentre eles há múltiplas naturalidades.
O Baiano representa a força do fragilizado, o que sofreu e aprendeu na "escola da vida" e, portanto, pode ajudar as pessoas. O reconhecido caráter de bravura e irreverência do nordestino migrante parece ser responsável pelo fato de os baianos terem se tornado uma entidade de grande freqüência e importância nas giras paulistas e de todo o país, nos últimos anos.

Os baianos da Umbanda são pouco presentes na literatura umbandista. Povo de fácil relacionamento, comumente aparece em giras de Caboclos e pretos velhos, sua fala é mais fácil de se entender que a fala dos caboclos.

Conhecem de tudo um pouco, inclusive a Quimbanda, por isso podem trabalhar tanto na direita desfazendo feitiços, quanto na esquerda.

Quando se referem aos Exus usam o termo "Meu Cumpadre", com quem tem grande afinidade e proximidade, costumam trazer recados do povo da rua, alguns costumam adentrar na Tronqueira para algum "trabalho". Enfrentam os invasores (kiumbas, obsessores) de frente, chamando para si toda a carga com falas do gênero "venha me enfrentar, vamos vê se tu pode comigo". Buscam sempre o encaminhamento e doutrinação, mas quando o Zombeteiro não aceita e insiste em perturbar algum médium ou consulente, então o Baiano se encarrega de "amarrá-lo" para que não mais perturbe ou até o dia que tenha se redimido e queira realmente ser ajudado. Costumam dizer que se estão alí "trabalhando" é porque não foram santos em seu tempo na terra, e também estão alí para passarem um pouco do que sabem e principalmente aprenderem com o povo da terra.

São amigos e gostam de conversar e contar causos, mas também sabem dar broncas quando vêem alguma coisa errada.

Nas giras eles se apresentam com forte traço regionalista, principalmente em seu modo de falar cantado, diferente, eles são “do tipo que não levam desaforo pra casa”, possuem uma capacidade de ouvir e aconselhar, conversando bastante, falando baixo e mansamente, são carinhosos e passam segurança ao consulente que tem fé.

Os Baianos na Umbanda são “doutrinados”, se assim podemos dizer, apresentando um comportamento comedido, não xingam, nem provocam ninguém.

Os trabalhos com a corrente dos Baianos, trazem muita paz, passando perseverança, para vencermos as dificuldades de nossa jornada terrena.

A Entidade pode vir na linha de Baianos e não ser necessariamente da Bahia, da mesma forma que na linha das crianças nem todas as entidades são realmente crianças.

Os Baianos são das mais humanas entidades dentro do terreiro, por falar e sentir a maioria dos sentimentos dos seus consulentes. Talvez por sua forma fervorosa de se apresentar em seus trabalhados no terreiro, aparentem ser uma das entidades, mais fortes ou dotadas de grande energia (e na verdade são), mas na umbanda não existe o mais forte ou fraco são todos iguais, só a forma do trabalho é que muda.

Adoram trabalhar com outras entidades como Erês, Caboclos, Marinheiros, Exus, etc.

São grande admiradores da disciplina e organização dos trabalhos.

São consoladores por natureza e adoram dar a disciplina de forma brusca e direta diferente de qualquer entidade.

Ponto de Baiano

Baiano bom

Baiano bom
Baiano bom é o que sabe trabalhar

Baiano bom
Baiano bom

Baiano bom é o que sabe trabalhar
Baiano bom

É o que sobe no coqueiro
Tira o coco, bebe a água

e deixa o coco no lugar
Baiano bom

É o que sobe no coqueiro
Tira o coco, bebe a água

e deixa o coco no lugar.