Publicado em 03/03/2012, às 16h44 | ||
Última atualização em 03/03/2012, às 16h44 | ||
Mesmo quem não é católico sabe que teve início após o Carnaval, o chamado tempo da Quaresma. O período, que se inicia sempre na quarta-feira de cinzas tem a duração de 40 dias, se encerrando sábado, véspera do Domingo da Paixão - ou de Páscoa. É comum que as pessoas pensem na Quaresma como um tempo de penitência, em que os fiéis são obrigados a praticar algum sacrifício, como não comer carne. Mas a verdade é que a religião sugere, convida os católicos à reflexão, praticando ou não a abstinência. Foi o que explicou o bispo Dom Francisco Biasin, da Diocese de Barra do Piraí/Volta Redonda. - A Quaresma é o tempo em que os fiéis são convidados a ir fundo no sentido da vida. É porque a correria e as distrações do dia a dia nos afastam dele. É um momento oportuno para centrar na vida - afirmou o bispo. A Igreja Católica acredita que 40 dias são suficientes para esse exercício de reflexão. Para Dom Francisco, assim como para o padre Juarez Sampaio, de Volta Redonda, a expressão quaresma, que faz alusão à quantidade de dias, é significativa, já que remete a diversas passagens bíblicas. - É uma expressão muito simbólica, pois lembra os 40 dias de dilúvio, o jejum do profeta Elias, o retiro de Moisés e os dias de Jesus no deserto. São cinco semanas que preparam para a maior festa da igreja, que é a celebração do Sírio Pascal - complementou o padre. Nessa busca pelo verdadeiro sentido da vida, conforme falou o bispo, é que se encontra a necessidade do sacrifício de alguma natureza ou da abstinência de hábitos ou práticas costumeiras. Assim, deixar de ingerir bebidas alcoólicas ou assistir à televisão, por exemplo, são ações que podem contribuir. - Procuramos, mais do que cortar por castigo, deixar de lado o que pode vir a atrapalhar essa busca pelo sentido da vida. O objetivo é deixar essas coisas por uma razão maior, como ler um livro, fazer o bem, buscar uma formação, se relacionar com a família. É deixar para ter mais e não menos - resumiu Dom Francisco Biasin. Com atos simples, como os citados, o bispo acredita que seja possível se libertar de vícios do cotidiano que afasta as pessoas da liberdade espiritual. - Devemos aproveitar o tempo para nos libertar de dependências não só químicas, mas também com relação à preocupação excessiva com a imagem, vanglória, egoísmo. É tempo de cortar as amarras, ficar livre para voar mais alto. Livres de vícios, podemos nos aprofundar mais na palavra de Deus e ter mais tempo para a oração - concluiu. Quaresma e a Campanha da Fraternidade Aproveitando o período de reflexão e busca pelo sentido da vida, a Igreja Católica lança hoje, na Ilha São João, a Campanha da Fraternidade 2012. Este ano, ela tem como tema "Fraternidade e Saúde Pública" e como lema, a passagem: "Que a saúde se difunda sobre a Terra". A Campanha da Fraternidade é sempre lançada durante a Quaresma, o que, segundo dom Francisco, tem uma razão. - O lançamento da campanha nesses dias remete a assumirmos também um compromisso comunitário. Assim, esses exercícios de crescimento interior podem atingir as vidas de todas as pessoas - idealizou o bispo. De acordo com o padre Juarez, a Igreja Católica prioriza, durante a Quaresma, a prática de ações penitenciais que podem ir além da penitência. Ele explicou que devem ser observados: a oração, a caridade e o jejum. - O período da Quaresma pode ser encarado como uma conversão que leve à melhora como pessoa. Devem-se buscar práticas penitenciais como a confissão. Tudo visa à preparação espiritual para a vivência da Páscoa que vai chegar - explicou. Com relação à abstinência da carne vermelha - a penitência mais comum e mais antiga da Quaresma - o padre esclareceu que a Igreja Católica sugere apenas dois dias de abstinência: na quarta-feira de Cinzas e na sexta-feira Santa. - É um exercício livre, previsto pela Igreja, mas não obrigamos os fiéis a ponto de pagarem um preço absurdo na compra do bacalhau, por exemplo - ressaltou o padre Juarez. Para o padre, independentemente de qualquer penitência, a Quaresma deve ser entendida como um momento de reflexão dos valores, de compaixão e de vida. Outras visões sobre a Quaresma O Brasil é um país que guarda nacionalmente os feriados católicos. Sendo assim, os religiosos de todas as crenças acabam por respeitar datas da Igreja Católica. Assim acontece com a quarta-feira de Cinzas e a Páscoa - feriados católicos que delimitam o período da Quaresma. As igrejas evangélicas, por exemplo, não costumam celebrar os feriados nem os 40 dias entre as datas em questão. O mesmo acontece entre as religiões de origem africana, como o Candomblé e Umbanda. Segundo a advogada Márcia Meireles, representante no Sul Fluminense da CCIR (Comissão de Combate à Intolerância Religiosa), a grande diferença entre o catolicismo e religiões africanas é a existência dos chamados dogmas. - A Quaresma representa, para a Igreja Católica, um período de orações e sacrifícios que antecede o maior dogma de fé do Cristianismo, que é a ressurreição de Jesus Cristo. Nas religiões africanas, isso não existe - adiantou. Ela explicou que, em alguns templos de Umbanda, os trabalhos seguem normalmente, com rituais de remissão dos atos praticados durante o Carnaval. Em outras casas, no entanto, as atividades espirituais de consultas e atendimento ao público são suspensas. Esses locais costumam manter funcionamento interno, com estudos doutrinários e desenvolvimento mediúnico. Ela contou que, antigamente, para serem aceitos pela comunidade local, os antigos babalorixás e yalorixás (sacerdotes de Candomblé) entravam para irmandades da Igreja Católica e seguiam seus rituais e preceitos. - Assim, introduziram no Candomblé o ato de se resguardar a Quaresma, ou seja, manter a casa fechada durante os 40 dias desse rito. Hoje em dia, com a maior busca pela africanidade e tentativa de romper com o sincretismo religioso, a prática vem sendo abolida em grande parte dos terreiros - completou Márcia, ressaltando que os sacerdotes candomblecistas reconhecem que não há motivos para cumprir preceitos de uma liturgia católica. Outro fator que contribuiu para a introdução da prática no Candomblé, ainda de acordo com a advogada, foi a proibição da prática no período da escravidão. - O sincretismo surge nesse contexto histórico, como um mecanismo de resistência religiosa e cultural. Cada casa de Umbanda e de Candomblé é independente. Há preceitos comuns a todas as casas, mas as particularidades que tornam cada casa única são determinadas pelos Orixás e guias - concluiu. Doutrina espírita respeita, mas não segue Entre os kardecistas - espíritas seguidores de Alan Kardec - o período da Quaresma também não é celebrado. De acordo com a comerciante Lúcia Inês Gomes, o Espiritismo não celebra a Páscoa, mas respeita as manifestações de religiosidade das diversas igrejas cristãs. Além disso, não proíbe que seus adeptos manifestem sua religiosidade. - Páscoa, ou passagem, simboliza a libertação do povo hebreu da escravidão sofrida durante séculos no Egito. No Cristianismo, porém, comemora a ressurreição do Cristo, que se deu na Páscoa judaica do ano 33 da nossa era, e celebra a continuidade da vida - explicou Lúcia. De acordo com a kardecista, não existe, para a doutrina espírita, Semana Santa, Sábado de Aleluia ou Domingo de Páscoa. A religião também não celebra o chamado "Senhor Morto". Para ela, não existe razão para que os espíritas kardecistas adotem práticas do tipo. - Trata-se de feriado e prática católica. É absolutamente incoerente com a doutrina espírita desejar "Feliz Páscoa!", por exemplo. A mesma situação ocorre na chamada Quaresma de nossos irmãos católicos: alguns espíritas ficam preocupados em comer carne ou não. Ora, somos espíritas ou não somos - questionou. Quanto ao funcionamento dos centros espíritas durante o Carnaval, por exemplo, Lúcia mantém firme seu posicionamento. Para ela, a Doutrina espírita nada tem a ver com o clima do feriado. - São práticas de outras religiões, que respeitamos muito, mas não adotamos. É absolutamente incoerente com a prática dos centros espíritas, qualquer influência que modifique sua programação ou proposta de vida - reafirmou. | ||
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